A experiência da Rádio Faced
Veronica Novis Odebrecht[1]
RESUMO: O rádio, assim como as novas tecnologias contemporâneas, é uma alternativa de mudança do sistema educativo. Ele deve ser um elemento desencadeador de uma nova estrutura pedagógica, colocando o educando como o maior agente do processo educativo, estimulando a sua criatividade e raciocínio. Através da análise da rádio criada na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, observa-se que a luta por um processo de ensino-aprendizagem democrático, horizontal e participativo já acontece.
Palavras-chave: Rádio, Educação, Transformação, Criatividade, Participação.
As novas tecnologias possuem importante papel no processo pedagógico, já que se vive na então “Sociedade do Conhecimento” e se vivencia, ao mesmo tempo, a reprodução de uma educação tradicional e tacanha. As tecnologias de informação e comunicação podem contribuir bastante para a ruptura de processos pedagógicos pouco estimulantes e que não propiciam a criatividade do educando, pois não colocam o mesmo como produtor de conhecimento. Elas não devem ser enxergadas e empregadas como ferramentas de apoio nas aulas, ou seja, como recurso complementar às explicações do professor; devem e podem ser vistas como algo que chega para transformar a realidade do espaço de ensino-aprendizagem.
O Rádio pode ser um forte desencadeador estruturante para tal revolução educacional. Apesar de ser uma das mídias mais antigas, ele evoluiu, transmitindo ainda mais rápido as informações e sendo veiculado também na internet - a exemplo da Rádio Faced.
Inúmeras instituições acreditam que os projetos de rádios são reducionistas e desnecessários, servindo apenas para os alunos ouvirem músicas e mandarem recados na hora do recreio. Um projeto desse caráter carrega consigo muito mais responsabilidade por parte de todos da comunidade escolar (professores, alunos, funcionários, pais) do que se imagina. A construção da mensagem radiofônica não é uma tarefa simples para o autor, pois exige toda uma preparação de conteúdo e de organização de pensamento, além do cuidado com estruturas gramaticais e seleção de palavras. Todavia, o sistema educacional, hoje majoritário, não enxerga tais possibilidades e acredita ser essencial o depósito de conteúdos na mente dos aprendizes, ou seja, apenas a transmissão do conhecimento. Segundo Paulo Freire, todos os educadores deveriam ter em mente:
“Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” (FREIRE, p.47)
É possível aprender matemática, história, geografia e tantas outras disciplinas através do rádio, de forma lúdica e significativa. Por quê não aprender determinado assunto de Biologia através de uma música? Por quê não realizar uma entrevista com um historiador, contendo inúmeros questionamentos de estudantes, e transmití-la na rádio da escola? Por quê não deixar tocar programas de rádio que tenham relação com o contexto de aprendizagem do aluno ou até mesmo programas construídos pelos mesmos? Por quê não contactar alguma personalidade política para que esta seja entrevistada pelos jovens, fazendo com que eles entendam um pouco mais sobre a realidade em que estão inseridos? Essas e outras formas diferentes do que os alunos estão acostumados a vivenciar, podem fazer com que questões importantes sejam internalizadas por eles.
Até inconscientemente, a construção da cidadania vai se solidificando. Forma-se cidadãos críticos e reflexivos, acostumados em expor e defender pensamentos e opiniões.
“As crianças envolvidas neste processo de educação para o meio e pelo meio não têm consciência clara do conceito de cidadania, mas desenvolvem a partir dos exercícios, uma forte visão de justiça social e de participação para inserção no poder instituído.” (GONÇALVES, AZEVEDO, p.4)
De acordo com as análises do Projeto Rádio na Escola, percebe-se que Com a exploração do rádio no processo educativo, educadores e educandos terão a oportunidade de planejarem e realizarem, juntos, uma significativa atividade social, ao disseminar cultura, ampliar horizontes, construir conhecimentos, se expressar e se comunicar, enfim, de ter voz e dar voz à comunidade onde a escola insere-se e é reconhecida.
A Rádio Faced, instituída na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é uma rádio web e constitui-se como um elemento transformador do processo educativo na faculdade. Para que o caminhar do educando seja mais pleno, deve existir uma integração do mesmo com a comunidade a qual faz parte e a Rádio Faced tem como objetivo a socialização e integração do sujeito com os demais membros do grupo social. Ou seja, é um ponto de encontro para a participação de todos. Ela conta com o apoio de voluntários e de bolsistas vinculados ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e financiados pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essas pessoas, em consonância com a proposta da rádio, de criar um espaço democrático e participativo para a comunidade escolar, auxiliam qualquer um que queira deixar a sua mensagem, que pode ser através de vinhetas, entrevistas, palestras, crônicas, músicas, defesa de uma tese de doutorado, etc.
A Rádio Faced possui alguns programas que valorizam a cultura local e as produções de membros sociais. Há o programa “Diversidades” e o “Vertigens”. O primeiro aborda o movimento cultural alternativo de Salvador, homenageando e proporcionando o conhecimento dos costumes locais e criando uma identificação dos ouvintes com as matérias. Já o segundo, é um espaço aberto para toda forma de expressão. É uma oportunidade para a publicação/apresentação de um trabalho, projeto ou texto.
Ela traz, enraizada, um novo modelo educacional, mais participativo e lúdico, colocando o estudante e os demais membros da faculdade como produtores criativos do conhecimento e, a partir do momento em que aluno sente-se peça fundamental para o andamento da aprendizagem, o conhecimento é internalizado de forma mais prazerosa e significativa. Além disso, ao construir uma mensagem radiofônica, seja da forma que for, ele sente-se livre, desenvolve habilidades e constrói um discurso próprio, aumentando a sua auto-estima. Como se pode observar no programa “Vertigens”, não há censuras para o que será publicado, o que torna a rádio estimuladora de pesquisas e trocas de experiências escolares e extra-escolares.
A maioria dos professores parece ainda não perceber a real importância da utilização do rádio no processo pedagógico e não exercem o papel que deveriam em tal processo. Muitos desconhecem as possibilidades oferecidas pelo rádio e não o utiliza como espaço de produção para os estudantes, que poderiam criar vinhetas, apresentar/publicar trabalhos e pesquisas, etc. Na Faculdade de Educação da UFBA há educadores e educandos que desconhecem a existência da rádio universitária e, se conhecem, não sabem elaborar planos de utilização da mesma na construção do conhecimento. Demasiados alunos só passam a conhecê-la depois que cursam a matéria obrigatória do curso de Pedagogia da Faced: Educação e Tecnologias Contemporâneas. Vale ressaltar que nas outras disciplinas nem se ouve falar em Rádio Faced.
Enfim, conclui-se que o rádio pode ser espaço de comunicação e produção escolar e, para isso, precisa envolver a comunidade e tentar estimulá-la, ao máximo, a participar. Demasiados alunos da Faculdade de Educação ainda não têm consciência do valor e importância da Rádio Faced no processo de graduação. O alunado do curso de Pedagogia, principalmente, deveria se engajar nas programações da rádio, não dependendo de professores para tal atividade, pois tal participação enriqueceria a sua formação universitária, sendo um passo importante para enxergar que uma nova forma de educação, mais criativa e significativa, pode substituir o modelo tradicional que quase nada ensina aos alunos.
Referências Bibliográficas:
CORTELAZZO, Iolanda. Pedagogia e as novas tecnologias. FFCHLA - Curso de Pedagogia e Programa de Pós- Graduação em Educação, Mestrado em Educação. s/d. Disponível em:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa, São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GONÇALVES, Elizabeth Moraes, AZEVEDO Adriana Barroso de. Rádio na escola como instrumento de cidadania: Uma análise do discurso da criança envolvida no processo. Revista Acadêmica do grupo Comunicacional de são Bernardo, Ano 1, n.2, 2004. Disponível em:
Projeto Rádio na Escola. ETI. UFRGS-RS. Disponível em: <http://demogimirim.edunet.sp.gov.br/Nucleo%20Informatica/ProjetoRadio.doc>Acesso em 2 nov.2007.
Rádio Faced. Disponível em
[1] Estudante de Pedagogia, cursando o 4º semestre na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.